sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nudez

Cuspiu de lado, precisava tirar um pouco do amargo na boca. Suspirou. Olhou seu rosto no espelho, tentou não desviar o olhar muito rápido. É difícil olhar o que não queremos, encarar. Foi desabotoando aos poucos a camisa, colocou-a de lado. Depois foi a vez da calça. Ficou ali analisando cada aspecto do seu corpo. "É bem por isso que não uso biquíni", suspirou novamente e tirou o resto da roupa. Não tinha vontade de se comer, mas bem, um homem excitado e uma garota nua... pouca atenção há de se deixar para os detalhes. Foda-se então. Suspirou mais uma vez. Puta vontade de fumar. Ficou ali, encarando o seu corpo, o seu rosto. Sentia-se mais velha, parecia mais velha talvez. Pegou o bato vermelho, passou. Analisou seus lábios, eram bonitos afinal. Decidiu acender um cigarro, a fumaça subia e ela continuava a se olhar. O que procurava? Passou as costas da mão, tirando e borrando, quem visse de longe acharia que era sangue. E quem se importa? Era hora da prova final. Respirou fundo, tomou coragem. Deu um murro no espelho, viu sua imagem se espatifar, sentiu o corte na mão. Ficou alguns segundos olhando o sangue escorrer, abriu a torneira e tentou lavar o corte. Cada dia alguém se mutila um pouco não é? Um pequeno corte não é nada, nada comparado ao que fazem por aí. Mas essa não é a prova de fogo, certo? Não mesmo. Respirou fundo novamente, nua entrou no quarto e foi à procura das caixas, abriu todas e foi olhando as fotos, as cartas. Leu tudo aquilo, manchava algumas coisas com sangue, não importa mais, afinal. Suspirou. Levantou-se e foi ver mais uma vez a sua imagem no espelho. Não tinha marcas, não tinha manchar roxas. Estou curada? Finalmente?

Quem sabe...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

E aí, vamos trepar?


“Eu acho que a gente deveria trepar”. Pronto, falou. Foi horrível. As últimas duas horas tinham sido dedicadas a esse momento em especial, dizer o que sentia, na verdade, aquilo que queria. Sentia seu coração prestes a sair pela boca (e não do jeito gostoso), a umidade da sua calcinha há muito tinha se tornado constrangedora e incômoda. Enquanto pensava em todas essas miudezas, ouviu lá longe uma voz:
Tá brincando né?

Brincando? Puta que pariu, brincando? O que você é, algum retardado mental que não consegue notar uma mulher se roendo de tesão? Já sei, melhor, eu sou feia, gorda, baranga e você não quer me comer. Pronto, falei. Agora foda-se tudo, foda-se a amizade e todas essas coisas bonitas. Acaba aqui,com um pedido de foda negado e uma cara na lama.

Sentiu uma mão em sua perna, despertou dos seus pensamentos. Respirou fundo, colocou a própria mão por cima e falou, sequer conseguiu ouvir a própria voz.

Não...
Ok, então vamos lá.

Terminou o relato, bebeu de um gole só todo o conteúdo do seu copo. Sentiu queimar por dentro. Porra, até whisky não está me descendo direito.

E agora vocês estão namorando?
Namorando, tá louca? A gente só trepou e foi por alguns minutos. Depois ele vestiu a roupa e foi embora, eu fiquei lá olhando pro teto. Ele saiu, depois de um tempo fui trancar a porta. E assim terminou. Não nos falamos há muito tempo.
Eu não consigo entender essas coisas.
Nossa, me desculpa se você só beijou seus namorados. Eu, coitada, sou uma putinha qualquer que abre as pernas para o primeiro que aparece. Ou para os melhores amigos, sempre achei que essa segunda opção fosse mais segura.

Ouviu a amiga rir. Como eu queria um cigarro agora... não podia fumar, a amiga tinha asma e depois não sabia do seu pequeno segredinho. Era sim, um segredo. Odiava ser vista fumando e a vez que confessou fumar, se sentiu pior. Era sempre assim. Nutria um segredinho, não aguentava com ele, confessava, se sentia pior. Voltava à estaca zero e por estaca zero queria dizer estar no quarto sozinha, fumando e se masturbando, pensando em qualquer coisa melhor. Depois vinham as músicas românticas dos anos 80. É bom fingir que se quer um amor, talvez sirva para atrair mais trepadas, você sabe, aqueles caras mais sensíveis e tímidos que querem ser heróis de qualquer buceta. Ok, ok. Olhou para o lado, enxergou os carros, as pessoas, suspirou. Era muito desconfortável, não queria perdê-lo. Mas como perder o que não temos?

Eu deveria ter me conformado com a friend zone. Sabe como é, saber dos casos amorosos dele, consolá-lo, fingir que me importo uma vez ou outra.
Você precisa aprender a se impor, a seduzir, ao invés de ficar por aí tentando o que dá na telha.
MAS EU ODEIO ESSA COISA DE SEDUZIR, PORRA!!!

Meio restaurante olhou, ela tinha se alterado, batido na mesa. Pediu mais uma dose, não, duas. Ouviu a amiga dizer para ir com calma, sua alcóolatra.

Que nada, tenho uma tinha que acha o maior chiquê mulher tomar whisky.
E eu acho lindo mulher fumando, com aquelas piteiras antigas, mas nem por isso fumo ou gosto de ver você fumando. Então cancela esse pedido e pede um suco.
É foda esse poder que você tem sobre mim. Sabe o que a gente deveria fazer?
Trepar?
Isso! Todos os problemas resolvidos, a gente sai daqui, vai para o seu apartamento. Nada que uma chupada ou uma colada de velcro não resolva. Seu marido não precisa saber e seu filho ainda nem chegou do colégio. Temos o tempo perfeito, o horário dos amantes. Antes do almoço, no meio da manhã.
Você é louca.
Sou, sou. E sabe o que me dá raiva? Todo mundo adora a louca, gosta de ver, rir, pegar, mas comer que é bom ninguém quer.
Você precisa aprender a …
SEDUZIR? FAZER BEICINHO? SER A PUTINHA SAFADA QUE VOCÊ É?
Exatamente, mó bem. Não custa nada! Um jeitinho no olhar, outro para pegar as coisas, outro para sentar no carro dele, durante aquela conversa...
Sério que eu to ouvindo isso? Não, é sério!?
Claro, outro jeitinho de pegar na mão dele e olhar nos olhos, como quem se importa se o time dele ganhou ou perdeu alguma taça. Você tem mãos lindas, brinque com os dedos ao redor dos lábios, sabe você tem lábios lindos, deveria usar mais batom de vez em quando. Até eu quero beijá-los.
MAS QUE PORRA ENTÃO PORQUE VOCÊ NÃO VEM E BEIJA?!
Fala baixo! Vai apanhar desse jeito
Nossa, me bate que é fetiche.
Olha, deixa de besteira, a partir de hoje você será a minha pupila. Já te consertei tanta coisa, porque não posso consertar isso? Te ensinarei a ser uma femme fatale!

Tinha uma música. Puta que pariu, meu gato botou um ovo. Mas gato não põe ovo, puta que pariu de novo. Naquele caso, seria algo mais ou menos assim puta que pariu, minha amiga me quer para femme fatale, mas quem nasceu pra chupar pau no beco não vira femme fatale. Ah, não sejamos tão exagerados assim. Ela não era tão desprendida sexualmente que chupasse qualquer coisa, ainda mais num beco. Tudo exagero, tudo uma tentativa de colocar de lado aquela necessidade de uma conchinha pós-trepada. Perigosa, evidentemente, mas muito necessária nas noites de solidão. Enfim, a questão é que estava cansada dessas coisas, dessa necessidade de um prévio teatro. Apesar disso, ela curtia o teatro, é divertido seduzir de vez em quando. Sabe aqueles filmes antigos, o lenço cai, o cara pega o lenço e sai correndo. Ele tem o cheiro dela nas mãos e quer o resto. Ela está em um lugar escuro, como a etiqueta manda. Ele só consegue um beijo que o deixa querendo mais e mais, achou a mulher da sua vida. Uma dama nas ruas e uma vadia na cama. Ah, todos querem uma assim não é mesmo? Todos, todos. Uma mocinha que se vista bem, seja delicada e educada com os amigos. No final da noite ele quer um bom boquete e aquela trepada furiosa, sabe como é, meu time perdeu.

Vamos tomar sorvete? Sorvete de brownie... que acha?
Vamos, só assim para você se acalmar.
Não, para eu me acalmar...

E saíram rindo. É, dava para aguentar. Que me perdoem as feministas cheias de dedos e pouca depilação mas bom mesmo é ter o cabelo puxado e um sua putinha sussurrado no ouvido.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Vento nas flores

Eu não queria pensar nisso, juro. Mas hoje foi difícil. Odeio a minha memória, odeio o modo como as vezes eu simplesmente foco nas coisas mais aleatórias possíveis. É insuportável para mim o que elas trazem. E hoje foi essa imagem, o vento batendo, as flores. O jeito que eu parei e vi você, o jeito que eu sorri. O jeito que fui andando até o seu encontro. 
Hoje realmente doeu, não necessariamente doeu mas eu me enchi de algo que quero me enganar. Eu sou orgulhosa e mimada. Ideal para mim seria você receber isso e simplesmente me aceitar por quão bonito o meu sentimento é. Essas coisas não acontecem. O mundo não pára ou espera você passar. Mas hoje, hoje eu realmente senti doer. Já necessitou de alguém? Alguém que completasse a sua carne. Como você completa. Alguém que completasse seus pensamentos mais idiotas. Como você completa. Alguém. Você. 
 Mas eu vou negar, negar até o fim qualquer coisa. Não é um sentimento antigo que voltou. É algo que nasceu. Todo o passado foi sepultado naquelas horas perdidas entre qualquer suspiro. O problema foi o que aconteceu depois daquilo, a pessoa vista, observada. 
O problema é minha doença. A doença do ter e do ser. Ter você e ser alguém para você. Eu queria poder magoar, fazer doer. Qualquer coisa para gerar a ilusão de que nesse jogo eu saí vencedora. Mas não é verdadeiramente um jogo, é?
O jeito é gritar. Gritar porque algo bom transbordou mas não há ninguém para recolher. Ficar nesse eterno flutuar. Ilusões alimentam tanto quanto migalhas. Ah se eu pudesse ir embora. Ir embora de sua memória e da minha. Esconder qualquer coisa onde ninguém possa achar, nem mesmo eu. Tudo isso para não dizer o que ambos sabemos e aquilo que por mim não pode ser admitido. Se eu pudesse deixar pra lá... eu seria feliz.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sem título

Quanto tempo se leva para tomar coragem? Coragem de levantar da cabine, do isolamento, coragem para engolir o orgulho. Porra, orgulho é algo foda de se engolir. É pior do que o pior remédio que já tomei, pior até do que aqueles vomitórios que se toma quando se tenta suicídio com algumas pílulas controladas. Hoje eu acordei pensando seriamente em suicídio mas não foi o meu e isso me doeu bastante. Suicídio é algo quase heroico, tem que ser muito, muito macho para se matar. Uma amiga médium disse que já resgatou muita gente, num lugar nada legal chamado "vale dos suicidas". Essas coisas de pós-morte sempre me assustaram muito. Ontem uma entidade ficou ao lado da minha cama, me observando tentar dormir, acho que ela esperava pelo show particular que dou toda madrugada, mas ontem não teve. Enfim, ela ficou lá parada. Acho que era um homem, quem sabe algum dos meus casos? Será que eu tive casos? Ele queria que eu começasse meu show mas eu queria dormir, estava me irritando muito e mandei ir se foder. É isso mesmo, mandei ir se foder, procurar outra go go girl. Hoje não tem nada para você, nem para mim. Eu não gosto de escrever mais de um parágrafo. É algo como quando eu era pequena e tinha dificuldade de ler pontos finais. Sim, eu os lia mas sempre achei que deveríamos demorar séculos para ler a próxima frase. Viu? Agora que pensei nisso fiquei séculos na frente do computador, pensando como terminar isso. É estranho, faz parte das muitas percepções alteradas da minha realidade. Isso diriam os fodidos terapeutas que um dia irão me analisar. Eu não acredito. A realidade é minha e se eu quiser enfio no meu cu e não dou conta a ninguém. É, hoje estou assim. Particularmente afetada e particularmente irritada, talvez seja TPM. Não, não diga jamais isso para mim. Eu sou muito mulher para não menstruar. Hahaha que loucura né? Então, essa sou eu vomitando jatos ácidos de qualquer coisa na minha mente, só porque eu preciso e quero. Sabe o que tenho ouvido muito esses dias? Joy Division, ouçam, é legal, é bom. Tive um sonho interessante, nele eu ia até uma garagem. Tinha uma menina muito linda lá, de mini-saia jeans e uma blusa largada, seus cabelos emaranhados compondo um quadro maravilhoso da melhor doença que há. Ela fumava algo e parecia muito concentrada em observar os desenhos feitos pela fumaça. Eu entrava, não falava nada e a fodia. Mentira, nem foi assim, eu nem sou lésbica para viajar nessas coisas. A verdade é que eu entrava, pegava um baseado no chão e simplesmente fumava. De repente eu compreendia todas as coisas que ela havia me dito sem que eu soubesse. Mas chegou um cara e eu dei para ele, o baseado claro. Acordei com uma puta, fodida, horrível vontade de fumar. Mas sou uma boa menina e me controlo. Mas as imagens de uma garrafa e um cigarro e uma cadeira e o horizonte se repetiam na minha mente. Ficavam lá como sereias cantando e me convidando à queda. Não sei, não sei. Acho melhor fazer gordice. 

Bulimia

Como colocar isso para fora? Você pode colocar dois dedos na garganta, meter bem fundo e pronto. Tudo virá para fora e do jeito que você gosta: ácido. Mas eu não gosto de vomitar. Ah, você gosta sim, você é bulímica. Bulímica, eu? A última vez que vomitei foi naquele carnaval, estamos quase no São João. Deixe de ser idiota e termine de me escutar. Você é o que eu chamaria de bulímica emocional. Por favor, não me venha com esse papo de psicólogo porque eu já mandei o meu ir se foder faz tempo. Você é uma menina má. Sou mesmo, você vai me bater? Cuidado que eu posso até gostar. Quem sabe, mas voltemos à minha linda tese sobre você. Odeio teses sobre mim. Não essa que eu vou mostrar. Tudo bem, tudo bem, fale logo. Você é uma bulímica emocional. Você não fala aos poucos, não há graça nisso. Tudo é guardado, compactado, minuciosamente organizado dentro de você, simplesmente para ser vomitado depois. Ah mas não me diga, então o fato d'eu não conseguir me comunicar direito significa que sou uma bulímica emocional? Claro, você se deleita com seus vômitos, é quase a sua perversão particular. Não, minha perversão particular é me sufocar com o travesseiro enquanto me masturbo. Cuidado com esse tipo de informação, as pessoas podem achar ruim ou até mesmo estranho. Ah que se fodam as pessoas, são todas tão ou mais pervertidas do que eu, apenas escondem mais, eu não eu... Vomita tudo de uma vez, sem se importar, vomita e quando seu estômago volta ao normal não tem graça. Você precisa da náusea, você precisa da náusea, da angústia, do mal. 

Não, eu não preciso.

sábado, 21 de abril de 2012

Angústia


Arranhava seu pescoço, enquanto seu quadril mexia-se para atingir o orgasmo, arranhava seu pescoço para sentir o sangue escorrer. Sua respiração ofegante era entrecortada por gemidos de dor. O sangue escorria. Escorria a sanidade, escorria a loucura. Mordia o lábio inferior. Queria amputá-lo, queria amputar a insanidade, a angústia. Seu quadril não parava de mexer. Toda ela ardia, era uma bela pintura vermelha, linda de se ver e provar. Suas unhas quebravam-se na carne e suas feridas eram cada vez mais abertas. Desvanecia aos poucos. O sangue a pintar-lhe os seios, desenhar-lhe no ventre. Seu lábio ia se desfazendo aos poucos e da sua boca o sangue brotava como saliva. Seu desejo encontrava ápices repetidos e toda ela tremia. E caída ficou. Acalmou-se.  

segunda-feira, 26 de março de 2012

Resolveu assistir ao show. Ao tão falado e aclamado espetáculo de bonecos. Toda a cidade suspirava pelos cantos, bonecos tão lindos, mexiam-se por mágica. Arrumou-se com a sua melhor porcelana e foi. Esperando levantarem as cortinas, foi tomada por náuseas, respirou fundo e tentou se conter. Eis que aparecem os primeiros bonecos, lindíssimos. Mas ao mesmo tempo sentiu o seu jantar novamente na língua e a muito custo engoliu tudo novamente. Olhou para os lados, ninguém mais parecia sentir aquilo. Assustou-se com os olhos brilhantes, vidrados e as caretas de alegria. Mais bonecos apareciam e a plateia se transformava em um único gemido de satisfação. Levantou-se e correu, na calçada viu seu jantar reduzido à lama, tentou se recompor, com muito esforço retornou ao seu lugar. No entanto, sequer conseguiu se aproximar, sentiu novamente a ânsia. Sentiu tocarem-lhe o braço e ao virar foi conduzida até uma pequena sala.
"Saiam da minha frente, eu já não aguento mais!"
E ouviu os sons e o cheiro característico. Viu o conteúdo pingar de uma pequena bolsa, a qual foi colocada dentro do boneco, que como mágica movia-se e fazia pequenas reverências.
"Eles não conseguem sentir o cheiro, estão muito ocupados com nossos bordados brilhantes."