“Eu acho que a gente
deveria trepar”. Pronto, falou. Foi horrível. As últimas duas
horas tinham sido dedicadas a esse momento em especial, dizer o que
sentia, na verdade, aquilo que queria. Sentia seu coração prestes a
sair pela boca (e não do jeito gostoso), a umidade da sua calcinha
há muito tinha se tornado constrangedora e incômoda. Enquanto
pensava em todas essas miudezas, ouviu lá longe uma voz:
Tá brincando né?
Brincando?
Puta que pariu, brincando? O que você é, algum retardado mental que
não consegue notar uma mulher se roendo de tesão? Já sei, melhor,
eu sou feia, gorda, baranga e você não quer me comer. Pronto,
falei. Agora foda-se tudo, foda-se a amizade e todas essas coisas
bonitas. Acaba aqui,com um pedido de foda negado e uma cara na lama.
Sentiu
uma mão em sua perna, despertou dos seus pensamentos. Respirou
fundo, colocou a própria mão por cima e falou, sequer conseguiu
ouvir a própria voz.
Não...
Ok,
então vamos lá.
Terminou o relato, bebeu de um gole só todo o conteúdo do seu copo.
Sentiu queimar por dentro. Porra, até whisky não está me
descendo direito.
E
agora vocês estão namorando?
Namorando,
tá louca? A gente só trepou e foi por alguns minutos. Depois ele
vestiu a roupa e foi embora, eu fiquei lá olhando pro teto. Ele
saiu, depois de um tempo fui trancar a porta. E assim terminou. Não
nos falamos há muito tempo.
Eu
não consigo entender essas coisas.
Nossa,
me desculpa se você só beijou seus namorados. Eu, coitada, sou uma
putinha qualquer que abre as pernas para o primeiro que aparece. Ou
para os melhores amigos, sempre achei que essa segunda opção fosse
mais segura.
Ouviu a amiga rir. Como eu queria um cigarro agora...
não podia fumar, a amiga tinha asma e depois não sabia do
seu pequeno segredinho. Era sim, um segredo. Odiava ser vista fumando
e a vez que confessou fumar, se sentiu pior. Era sempre assim. Nutria
um segredinho, não aguentava com ele, confessava, se sentia pior.
Voltava à estaca zero e por estaca zero queria dizer estar no quarto
sozinha, fumando e se masturbando, pensando em qualquer coisa melhor.
Depois vinham as músicas românticas dos anos 80. É bom fingir que
se quer um amor, talvez sirva para atrair mais trepadas, você sabe,
aqueles caras mais sensíveis e tímidos que querem ser heróis de
qualquer buceta. Ok, ok. Olhou para o lado, enxergou os carros, as
pessoas, suspirou. Era muito desconfortável, não queria perdê-lo.
Mas como perder o que não temos?
Eu
deveria ter me conformado com a friend zone. Sabe como é, saber dos
casos amorosos dele, consolá-lo, fingir que me importo uma vez ou
outra.
Você
precisa aprender a se impor, a seduzir, ao invés de ficar por aí
tentando o que dá na telha.
MAS
EU ODEIO ESSA COISA DE SEDUZIR, PORRA!!!
Meio restaurante olhou, ela tinha se alterado, batido na mesa. Pediu
mais uma dose, não, duas. Ouviu a amiga dizer para ir com calma, sua
alcóolatra.
Que nada, tenho uma tinha que acha o maior chiquê mulher tomar
whisky.
E eu acho lindo mulher fumando, com aquelas piteiras antigas, mas
nem por isso fumo ou gosto de ver você fumando. Então cancela esse
pedido e pede um suco.
É foda esse poder que você tem sobre mim. Sabe o que a gente
deveria fazer?
Trepar?
Isso! Todos os problemas resolvidos, a gente sai daqui, vai para o
seu apartamento. Nada que uma chupada ou uma colada de velcro não
resolva. Seu marido não precisa saber e seu filho ainda nem chegou
do colégio. Temos o tempo perfeito, o horário dos amantes. Antes do
almoço, no meio da manhã.
Você é louca.
Sou, sou. E sabe o que me dá raiva? Todo mundo adora a louca,
gosta de ver, rir, pegar, mas comer que é bom ninguém quer.
Você precisa aprender a …
SEDUZIR? FAZER BEICINHO? SER A PUTINHA SAFADA QUE VOCÊ É?
Exatamente, mó bem. Não custa nada! Um jeitinho no olhar, outro
para pegar as coisas, outro para sentar no carro dele, durante aquela
conversa...
Sério que eu to ouvindo isso? Não, é sério!?
Claro, outro jeitinho de pegar na mão dele e olhar nos olhos,
como quem se importa se o time dele ganhou ou perdeu alguma taça.
Você tem mãos lindas, brinque com os dedos ao redor dos lábios,
sabe você tem lábios lindos, deveria usar mais batom de vez em
quando. Até eu quero beijá-los.
MAS QUE PORRA ENTÃO PORQUE VOCÊ NÃO VEM E BEIJA?!
Fala baixo! Vai apanhar desse jeito
Nossa, me bate que é fetiche.
Olha, deixa de besteira, a partir de hoje você será a minha
pupila. Já te consertei tanta coisa, porque não posso consertar
isso? Te ensinarei a ser uma femme fatale!
Tinha uma música. Puta que pariu, meu gato botou um ovo. Mas gato
não põe ovo, puta que pariu de novo. Naquele caso, seria algo
mais ou menos assim puta que pariu, minha amiga me quer para femme
fatale, mas quem nasceu pra chupar pau no beco não vira femme
fatale. Ah, não sejamos tão exagerados assim. Ela não era tão
desprendida sexualmente que chupasse qualquer coisa, ainda mais num
beco. Tudo exagero, tudo uma tentativa de colocar de lado aquela
necessidade de uma conchinha pós-trepada. Perigosa, evidentemente,
mas muito necessária nas noites de solidão. Enfim, a questão é
que estava cansada dessas coisas, dessa necessidade de um prévio
teatro. Apesar disso, ela curtia o teatro, é divertido seduzir de
vez em quando. Sabe aqueles filmes antigos, o lenço cai, o cara pega
o lenço e sai correndo. Ele tem o cheiro dela nas mãos e quer o
resto. Ela está em um lugar escuro, como a etiqueta manda. Ele só
consegue um beijo que o deixa querendo mais e mais, achou a mulher da
sua vida. Uma dama nas ruas e uma vadia na cama. Ah, todos querem uma
assim não é mesmo? Todos, todos. Uma mocinha que se vista bem, seja
delicada e educada com os amigos. No final da noite ele quer um bom
boquete e aquela trepada furiosa, sabe como é, meu time perdeu.
Vamos
tomar sorvete? Sorvete de brownie... que acha?
Vamos,
só assim para você se acalmar.
Não,
para eu me acalmar...
E saíram rindo. É, dava para aguentar. Que me perdoem as feministas
cheias de dedos e pouca depilação mas bom mesmo é ter o cabelo
puxado e um sua putinha sussurrado no ouvido.